- 11 de setembro de 2024
COMPETÊNCIA E PONTUALIDADE
JOBIS PODOSAN
O brasileiro é impontual e, em certa medida, aprecia esse defeito. Em si mesmo acha o máximo, nos outros critica, porém tolera. Boa parte dos profissionais não acha a impontualidade um mal. Consideram-na mero defeito de forma, que não lhe atinge a competência. Para tais pessoas a competência releva a impontualidade. Chegam até a ver a impontualidade como parte integrante da competência, porém com o sinal trocado: quem é competente deve se fazer esperar, cabendo aos outros ter paciência, pois está esperando o que há de melhor!
Essa assombrosa forma de vaidade não os faz perceber que a pontualidade integra a competência, todavia por um ângulo diverso: todo aquele que é realmente competente é também pontual. A pontualidade respeita o tempo dos outros, prende os clientes, facilita promoções, estimula amizades, elimina críticas, favorece a alta estima e produz recomendações. A competência sem pontualidade é um mal para o profissional e em nada o favorece. Os problemas não podem ser resolvidos no tempo do profissional, pois de nada adianta fazer a coisa certa na hora errada. Os problemas têm seu próprio tempo. Também a pontualidade sem competência leva ao fracasso, pois também não adianta fazer a coisa errada na hora certa. Pontualidade representa o momento certo e competência representa a coisa certa a fazer. Então o profissional pontual e competente faz a coisa certa na hora certa. Os atrasados apenas demonstram seu menosprezo pelo seu cliente.
Arquimedes (287 a.C. a 212 a.C.), era um sábio grego que por muitas invenções e descobertas é até hoje reverenciado. Hoje conhecemos muito pouco sobre sua vida e sua obra, já que muitos dos documentos originais foram destruídos. Sendo dado às ciências dispunha de pouco tempo para os amores. Porém, uma certa biografia dele contém uma história interessante sobre pontualidade: uma tal Dionie atraiu a atenção do sábio, despertando-lhe os instintos sexuais. Após os tratos necessários marcaram um encontro amoroso num bosque, por volta de quatro horas da tarde. Ansioso, o matemático chegou antes da hora, mas Dionie, decerto antecipando os hoje famosos atrasos femininos, fez-se esperar. Para conter a impaciência, Arquimedes tomou de um graveto, sentou numa pedra e pôs-se a riscar o solo, traçando algumas figuras geométricas. Ao cabo de algum tempo, completamente absorto com os desenhos que fazia, esqueceu-se da hora e da amante e, antes que ela chegasse, correu para casa e para a prancheta para concluir o desenho que começara. Havia acabado de descobrir a quadratura da parábola, uma das suas mais importantes obras. Não fosse o atraso da melindrosa e talvez levasse algum tempo mais para a teoria ser descoberta.
No caso acima, do atraso - onde parece que nada se perdeu - resultou um benefício para humanidade, mas por via transversal. Em regra o atraso só revela o abuso daquele ou daquela que acha que os outros foram feitos para estarem à sua disposição. A impontualidade, sendo defeito grave nos encontros gratuitos, nos remunerados é absolutamente intolerável. O atrasado, embora vá receber paga do seu cliente, entende-se tão poderoso, que o outro deve se sentir orgulhoso em esperá-lo.
Os médicos e dentistas são considerados hoje campeões da impontualidade. A queixa é geral. Deixaram esses profissionais de exercitar essa regra da boa educação e de respeito, vendo até certo charme nisso. Seus atendentes, dizem aos clientes: “trata-se de pessoa muito competente, mas é impontual, quando ele ou ela chegar o senhor vai gostar, tenha paciência”. O doutor, embora de celular em punho, nada diz sobre a hora que vai chegar, é um verdadeiro Deus que, quando descer do Olimpo, fará o favor de atender, sem que a consciência lhe reprima o mínimo, embora você pague antecipadamente a consulta.
Já é tempo de os médicos e dentistas fazerem algo para lhes melhorar a reputação. Eles quase já perderam os clientes homens, que não se revelam, como as mulheres, dispostos a esperarem três, quatro ou mais horas, para serem ”bem atendidos” pelo desidioso profissional. Exames periódicos ou de rotinas não veem mais os homens, que preferem a incerteza da morte à certeza dos maus tratos. O mau atendimento está fazendo os homens só irem do médico quando estão já verdadeiramente doentes, alguns até já na casa do sem jeito. A medicina preventiva foi abandonada.
Será esta uma atitude inteligente dos médicos?
Parece que não. Eles reclamam dos homens, quando algum consegue falar com um deles, recriminam, aconselham. Mas é só isso, na próxima consulta espere até que ele lhe possa atender, embora a hora tenha sido previamente marcada.
Mas é possível resolver isto. Se em todas as profissões podem-se aliviar os efeitos terríveis da impontualidade, também o podem os médicos e os dentistas. Entre tantos meios vai aqui uma sugestão: 1) comprar um cronômetro; 2) incumbir a secretária ou a si mesmo de controlar rigorosamente a entrada e saída dos pacientes desde o primeiro até o último, todos os dias; 3) ao fim do dia, calcular o tempo médio dos clientes, dividindo a soma de todos os tempos pelo número de pessoas atendidas.
Fazendo esse processo por três meses o profissional saberá qual é o seu Tempo Médio de Atendimento (TMA). Esse tempo é individual, não adianta usar o tempo dos outros, cada profissional tem seu TMA. Depois disso é só marcar as consultas com esse TMA e os pacientes jamais terão de esperar tempo demais. Algum atraso poderá haver, mas o bom senso e a paciência foram feitos para serem usados. Juntando a isto uma pitada de respeito: o profissional deve chegar na hora marcada, avisar os atrasos, se possível com antecedência, pedir desculpas se se atrasar, ser gentil, tudo melhorará a relação profissional/cliente e, quem sabe, eu poderei ter o prazer de ir ao médico e durar um pouco mais nesta vida?